quinta-feira, 20 de agosto de 2009

AVÓS DE HOJE... MÃES DE ONTEM


Num entardecer recente e ameno em que me dava ao luxo de deixar o pensamento correr sem rumo fixo, emergiram na minha mente as traquinices dos meus netos e "ouvi" a frase, actualmente, muitas vezes repetida: "todos são assim, nós já éramos assim".

Interroguei-me que mães fomos nós, avós de hoje? Na grande maioria nós, as avós actuais, com netos a entrar na puberdade, fomos mães nas décadas de sessenta e de setenta, na época em que pelo mundo fora surgiram os hippies, com a frase idiomática "Peace and Love" e que, por influência deles, as questões ambientais, a prática de nudismo, o não à guerra e a emancipação sexual tornaram-se ideias discutidas mais "às claras" e mundialmente.

Em Portugal este movimento expressou-se nas artes: música, pintura, arquitectura, moda, literatura,...Os textos reflectiam a revolta contra a guerra do Ultramar (iniciada em Angola em 1961), a ausência de liberdade de expressão, a pobreza e o analfabetismo.Dancámos ao som dos Beatles e dos Roling Stones. Fomos as primeiras a adoptarmos o planeamento familiar, a entrarmos "em força" no mercado de trabalho, a ganharmos autonomia , a traçarmos o nosso próprio caminho. Quase todas tivemos ou temos algum tipo de actividade profissional, ousámos questionar uma certa tradição da família e da escola, rejeitámos o modelo autoritário dos nossos pais sob o qual fomos criadas e começámos a aplicar uma disciplina baseada na compreensão dos problemas das crianças. Os nossos filhos deixaram de ser os bebés a quem se tinha apenas de mudar a fralda e de dar de comer com uma certa regularidade, passaram a ser compreendidos como seres com identidade própria, ou seja PESSOAS com direitos e com deveres, seres sensíveis e pensantes. Comigo e com as outras mães de "ontem" surgiu a necessidade de conciliar a vida familiar com a vida profissional, lutar no trabalho pela igualdade de direitos e por deitarmos "abaixo" a discriminação.

No pós 25 de Abril, com a democracia a permitir determinadas mudanças sociais, passámos a ter acesso a lugares de chefia e à presença activa em certas reuniões. Só que estas mudanças tiveram, por vezes, preços elevados, o divórcio subiu em flecha, houve que se buscar um novo equilíbrio e começaram a surgir novas formas de união nem sempre com sucesso.Tornámos possível aos nossos filhos a entrada mais facilitada nas escolas e na sociedade. O é "proibido proibir", foi defendido pela maioria das mães, nas quais me incluo, que educámos sem nos basearmos em grandes regras, muitas vezes sem normas pré-estabelecidas, mas com bastante sensibilidade e intuição, porque éramos mães em "mudança". De acordo com Edgar Morin fomos "os agentes secretos da modernidade". Em Portugal, o 25 de Abril, permite-nos dizer que fomos agentes não secretos, pelo contrário, bem visíveis.

Hoje quem somos? Acredito que posso afirmar: Somos OS GRANDES EDUCADORES DA ACTUALIDADE e aqui incluo, não apenas a avó mas também o avô

4 comentários:

  1. Olá Maria Teresa,
    Parabéns pelo seu blog! É caso para se dizer, "até que enfim..."
    Felizmente há avós que mantendo o seu espírito jovem não confundem os papéis de mãe e avó. Espero que tal não me aconteça, se algum dia chegar a ser avô (não tenho pressa de lá chegar!)
    Para já basta-me ser Tio!

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  2. Pois eu estou mortinha porser avó!!! E espero ser uma avó muito parecida com a minha...

    Também acho que ser avó deve ser mais fácil...é que ser mãe é tão dificil!!!

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  3. Olá Tio,

    Sempre gostei muito de escrever, e faço-o com muita frequência há muito tempo,sem grandes pretensões é certo, mas para consumo interno, testemunhos que daqui por alguns anos, espero que por bastantes, possam ser lidos pelos meus "herdeiros". Decidi dar o "meu" grito do Ipiranga e este é um dos resultados, sentindo-me ainda muito verde nestas "manipulações" .
    Obrigada pelas suas palavras, espero que me visite muitas vezes, que consiga tirar a minha cara de palhaço do seu blogue ( eu não consegui) e que goste do que escrevo tal como eu gosto da sua escrita. Será sempre bem vindo!

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  4. Querida Guizo,

    Não há receitas para se ser mãe, vou tentar falar nesse tema dentro de algum tempo.

    Ser avó é FANTÁSTICO para mim, mas há casos, infelizmente, que não é bem assim.
    Há avós que são "obrigadas" a serem "armazéns" de netos.
    Obrigada pelo seu apoio, no fundo é madrinha desta cantinho.
    Um beijinho embrulhado

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